Redescoberta – O 3º estado da aposentadoria ativa – Boletim nº 66
A prática nos mostra que as pessoas, em geral, não se conhecem como deveriam. Tanto a educação formal como os treinamentos in company se atêm ao conhecimento profissional, relegando o autoconhecimento a um segundo plano.
Roberto Crema, em seu livro “Antigos e novos terapeutas” (Vozes 2002), assim resume tal constatação: “É interessante imaginar um ser humano de remotas épocas visitando a nossa civilização ocidental contemporânea(…) Qual não seria a sua surpresa diante de nosso espetacular avanço científico e tecnológico? Como resistiria a um gesto de maravilhamento diante de um computador, de um arranha-céu, de veículos maravilhosos e velozes (…)? Mas qual não seria a desilusão de nosso visitante, ao constatar a nossa inépcia e incompetência quase total no comando e na movimentação do mundo interior, dos pensamentos, sentimentos, desejos e imaginação?”. Diante de tantas descobertas, avanços e conquistas, Roberto Crema pergunta: “A grande questão é: quando iniciaremos a viagem de autodescoberta, com a investigação do cosmo interior e com o processo de globalização dos múltiplos mares, continentes e universos da alma humana?”.
Na verdade, tudo o que se ensinou tanto na educação formal como nos programas desenvolvidos nas empresas, gravitou em torno do mundo corporativo, visando ao crescimento profissional, e tais conhecimentos foram direcionados para o âmbito exterior da vida, o que torna, de certa forma, as pessoas vazias e artificiais do ponto de vista interior.
E é por essa razão que, ao se aposentar, é fundamental investir no autoconhecimento. É como se fosse uma viagem para dentro de si, para tomar consciência de suas fraquezas, limites e alguns defeitos antes despercebidos, além de saber reconhecer suas forças e reavaliar seus conceitos e valores. Feito isso, sentir-se apto a enfrentar a realidade com os pés no chão, com passos mais seguros no resgate da identidade pessoal.
Este estado representa o momento de descobrir e despertar o seu verdadeiro potencial, com ênfase nas habilidades interpessoais, fundamentais na nova fase de vida.
Mas, quem sou eu afinal? Eu realmente me conheço? Quais minhas competências e habilidades interpessoais? Afinal de contas, qual é o seu verdadeiro talento, aquele tesouro escondido e que ainda não encontrou? Lembre-se de que o melhor de você está dentro de você mesmo. Até então você colocou o seu talento à disposição da sua profissão e do seu trabalho, tendo oferecido o melhor de você aos outros. Isso foi importante para sua sobrevivência no mundo do trabalho e fundamental para dar condições de vida mais digna à sua família. Mas, e quanto a você? É chegado, pois, o momento de fazer a viagem mais longa de sua vida, para seu mundo interior.
Essa viagem, ao íntimo de nosso eu, nos fará constatar que cada um de nós é uma obra-prima esculpida por Deus para ser única. O polimento dessa joia em forma de gente, porém, depende de nós mesmos. Cabe a nós escolher o caminho a seguir, bem como escrever a história das nossas vidas. Ficando mais ricos interiormente, poderemos sentir mais alegria que é a razão de nosso viver.
Ninguém nasce com um manual de instrução. Essa é a razão pela qual passamos a vida em busca de autoconhecimento, única maneira de desenvolver nossas potencialidades e expressar o melhor de nós mesmos. Como o nome já sugere, conhecer a si mesmo. É por esse motivo que os grandes filósofos do passado tanto insistiam na frase “conheça a ti mesmo”.
Esses são questionamentos que venho me fazendo nos últimos anos e que me têm ajudado a resgatar a lembrança de realizações bem-sucedidas e reescrever minha própria história. Na época da minha aposentadoria eu me sentia “desconfortável” com meu autoconhecimento e autodesenvolvimento, que ficara restrito às oportunidades de treinamento oferecidas pelas organizações, focadas no desenvolvimento das competências técnicas. Muito de negócio e quase nada sobre a vida.
Busquei, então, aprofundar meu autoconhecimento através do estudo do eneagrama, por meio do qual descobri meu tipo de personalidade e perfil, o que me possibilitou conviver e interagir melhor comigo mesmo e com as pessoas a minha volta.
O estudo do eneagrama foi uma verdadeira descoberta. Meu Deus, o quanto eu não me conhecia, e quão útil teria sido, tanto para minha vida pessoal como profissional, se conhecesse antes meu perfil, meu tipo de personalidade.
A história da águia nos deixa uma brilhante mensagem. A de que é preciso acordar a “águia” que existe dentro de nós, ousar novos voos, inventar novos caminhos e tirar de dentro de nós mesmos, de nossos sonhos e ideais as razões para lutar, criar e viver.
Que Deus o (a) proteja junto a seus familiares
Um fraternal abraço e até o próximo artigo,
Armelino Girardi
Consultor em desenvolvimento de pessoas e autor do livro Desaposentado melhor agora, além de criador e mantenedor do Clube dos Desaposentados – www.desaposentado.com.br
Armelino,
O artigo está muito bem escrito, realmente, cada um de nós precisa mergular em seu interior para fazer escolhas melhores para si. Abraço, Norma