Tão Longe e Tão Perto – Boletim nº 137

Após ter efetuado um treinamento sobre desaposentadoria, que me mostrou uma perspectiva muito interessante sobre o planejamento do período pós-aposentadoria, recebi um convite para ministrar palestras a alunos de graduação sobre empreendedorismo. O tema havia sido dividido entre várias pessoas e me coube falar sobre o plano de carreira.

Tão encantado estava com os conceitos aprendidos, que não tive dúvidas em adaptar a esses jovens estudantes (na maioria) recém-empregados, os princípios da desaposentadoria referentes ao projeto de vida: missão, fraquezas, forças, valores, papéis sociais e características pessoais percebidas por terceiros.
Não cheguei a separar as diferentes dimensões da vida para os alunos pensarem em seus objetivos, mas procurei fazê-los pensar na situação atual deles e na situação desejável futura. Procurei induzi-los a pensar nas ações necessárias, para chegarem aonde queriam, nos prazos e na ordem em que deveriam ocorrer.

A aceitação foi, em princípio reticente, pois eram alunos de universidade privada, que já iam às aulas cansados de uma jornada desgastante e com a perspectiva de uma longa volta para casa tarde da noite.

Aos poucos, entretanto, a participação foi crescendo na medida em que iam vendo uma aplicação prática ao exercício. Vários fizeram depoimentos voluntários e apaixonados sobre suas vidas. Houve muita discussão sobre ética pessoal e pública, papel da mulher e das minorias. Como é natural nesse ambiente havia sempre muita brincadeira e piadas sobre os depoimentos. Mas, para minha surpresa, não havia maldade, mas compreensão e solidariedade. Não riam dos depoentes. Riam com eles.

Nessa idade é muito fácil ser cruel em grupo e no anonimato, mas a ideia de planejar suas vidas de uma forma consistente era maior que o desejo de aparecer de forma sarcástica. Na realidade, surgiram líderes naturais, que passaram a quase dirigir a dinâmica. Procurei dar-lhes o espaço que era possível e terminei sempre tendo que lamentar cortar vivências tão entusiasmadas.

É claro que havia uma parcela que se esquivou, saiu mais cedo ou não se pronunciou. Mas não houve desrespeito com a aula, com o professor ou com os outros assistentes.

Um dos itens de melhor resposta foi o que leva a pensar quais as atitudes concretas que se precisa tomar para atingir nossas metas profissionais. A maioria das pessoas presentes nunca havia pensado nisso de forma sistemática e se mostravam muito surpresas por nunca terem feito algo semelhante.

A resposta posterior não poderia ter sido mais gratificante. Várias pessoas vieram falar que a palestra lhes deu consciência de quão importante é planejar o caminho de nossos sonhos e não simplesmente deixá-los por consta do acaso. Uma das alunas me enviou um e-mail dizendo “Gostaria somente de registrar que as suas aulas sobre plano de carreira foram essenciais para o meu planejamento profissional. Fez-me parar para analisar coisas que com a correria do dia-dia deixamos de lado”.

Para os que estão se desaposentando é curioso notar que a sensação pode ser a mesma. Talvez inclusive a participação seja muito semelhante. Alguns se esquivam, outros são participativos e alguns o fazem de forma apaixonada. Na realidade, o treinamento se faz dentro de nós, de acordo com nossa necessidade.

No caso dos meus alunos há toda uma vida profissional pela frente e, no dos desaposentados, também.

Luiz Ferreira Xavier Borges

Doutor em Engenharia da Produção pela COPPE/UFRJ
Advogado aposentado do BNDES

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