Reaprendizagem – 4º estado da aposentadoria ativa – Boletim nº 67
“O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo pela vida e desiste de aprender” (Honoré de Balzac)
Hoje os conceitos que você aprendeu com seus pais e avós estão mudando numa velocidade espantosa, ou seja, a tradição não é mais garantia e sucesso no presente nem no futuro. Isso vale para as organizações profissionais das mais variadas áreas e para todas as pessoas de uma maneira geral, em qualquer estágio da vida.
Nossa formação sofreu forte influência da escola formal e empresarial, ambas voltadas para a preparação cultural e profissional, e ausente no que diz respeito ao autoconhecimento e descoberta dos talentos interiores.
A educação formal incentiva os resultados e a competição na vida e no mundo do trabalho. Não que isso não seja importante. Pelo contrário. O que falta é ensinar aquele “algo mais”, os conceitos e noções direcionados para o lado interior do próprio ser. Por que não se dar mais destaque à área de ciências humanas em geral, e às artes, por exemplo? Tudo aquilo que é ligado à sensibilidade humana, à percepção da alma e do ser. Salvo poucas exceções, ninguém nos ensinou como saber interpretar uma música clássica, uma peça de teatro, uma ópera ou definir se determinada obra é abstrata, concreta ou cubista.
No mundo corporativo a situação se repete: tudo o que se ensina é voltado para o trabalho e para os aspectos exteriores do ser, em detrimento ao lado interior. O que vale é literalmente a “alma” do negócio.
Você se lembra do conteúdo dos treinamentos, convenções e outros encontros realizados na organização em que você trabalhou ou trabalha? Tudo versando sobre negócios. Da administração financeira à elaboração de relatórios estatísticos. Da administração do tempo a noções de marketing. Do trabalho em equipe às metas globais das empresas. Em suma, os trabalhadores são insistentemente incentivados a atingir a liderança (das organizações) e a se manter nela.
De certa forma, tudo o que aprendemos foi para fora de nós. A preocupação era decorar palavras e não entender seu significado. Faltou-nos a educação das sensibilidades. Nenhum professor me chamou a atenção para a beleza de uma flor ou a majestade de uma árvore, por exemplo.
Fomos treinados para sobreviver no mercado de trabalho evitando o lado pensante e questionador de nossa personalidade. Portanto, precisamos ficar nus novamente para facilitar o renascimento do segundo tempo de nossas vidas.
A aprendizagem, nesse segunda metade da vida, não precisa passar necessariamente pela reciclagem de competências técnicas. Não que isso não seja necessário. Mas o foco deve ser a redescoberta de ser, seus sonhos e novas ocupações e o projeto de vida. Refiro-me ao desenvolvimento de seu talento que estava lá no fundo do baú (ou da gaveta), ao autoconhecimento, ao seu mundo interior. Vejo muitos aposentados retornando às faculdades para completar cursos ou obter novas graduações, agora com interesses mais amplos, isto é, voltados para o estudo da filosofia, da arte e das ciências do autoconhecimento. Vejo outros preocupados a se aprofundar em atividades de lazer, como a música, dança e a gastronomia.
Acreditar que esse desenvolvimento pessoal não só é necessário, como vital, significa o mesmo que dizer que essa mudança trará vantagens pessoais. Ou seja, para se romper com a típica acomodação que tanto atrapalha nossa evolução, é preciso primeiro nos sentirmos desconfortáveis e perceber as desvantagens da inércia. Também é preciso visualizar as reais vantagens de se lançar nesse processo transformador. Talvez seja essa a maior motivação de que necessitamos para investir nessa empreitada.
Portanto, assim com você se preparou para o trabalho precisa, ao se aposentar, preparar-se para novos hábitos de vida.
Que Deus o (a) proteja junto a seus familiares
Um fraternal abraço e até o próximo artigo,
Armelino Girardi
Consultor em desenvolvimento de pessoas e autor do livro Desaposentado melhor agora, além de criador e mantenedor do Clube dos Desaposentados – www.desaposentado.com.br