APOSENTADORIA: afastamento das atividades usuais de trabalho (3ª parte)* – Boletim nº 145

Como o papel profissional é vivido em diferentes intensidades, o afastamento das atividades usuais de trabalho afeta as pessoas de forma distinta. Para alguns, o papel profissional se constitui na principal fonte de significados, de prestígio e de reconhecimento. O afastamento formal das atividades de uma carreira, quando resulta em crise, remete a sentimentos de vazio e solidão. Santos (1990) classifica três tipos principais de vivências da aposentadoria: aposentadoria recusa, aposentadoria sobrevivência e aposentadoria liberdade.

A aposentadoria recusa, como o nome indica, é caracterizada pela dificuldade em aceitar o papel de aposentado e ausência de projetos desvinculados do contexto de trabalho. O conceito de trabalho é fortemente impregnado da ideia de juventude e a aposentadoria, por decorrência, representa velhice e, mesmo, marginalidade. O papel profissional é a principal fonte de prestígio, poder, engajamento e confronto da angústia ou vazio existencial. O tempo livre, para muitos, ao longo da vida, é dedicado à família e às atividades de lazer. Ao chegar à aposentadoria, o entorno pessoal imediato está reestruturado, muitas vezes com os filhos distantes de casa, envolvidos com seus interesses (Allonso, 2012). Resumir uma vida ao trabalho pode resultar, ao chegar o momento da aposentadoria, em uma situação de crise. Mesmo se o esforço de uma vida de trabalho permitiu acúmulo financeiro e acesso a condições facilitadoras, a busca da continuidade de dedicação laboral persiste.

A aposentadoria sobrevivência acontece para pessoas que investiram intensamente no desenvolvimento de competências profissionais como garantia de subsistência. É comum na história de pessoas que tiveram no trabalho uma alternativa de sair de condições difíceis ou de desfavorecimento econômico. O trabalho pode não representar, em si, uma fonte de significados ou, até, representar opressão e alienação. O tempo de trabalho é supervalorizado e o não trabalho é desperdício. O que leva à imagem da aposentadoria como algo negativo, de perda de rendimentos. A única vantagem é a de uma entrada financeira sem a obrigação laboral. O descanso e o tempo para si não fazem parte dos projetos pessoais.

Finalmente, a aposentadoria liberdade é vivida como um momento de realização, um direito adquirido pelos esforços durante o período dedicado às atividades laborais. Pessoas nessa perspectiva constroem suas identidades baseadas não apenas no papel profissional, mas também em outras fontes de engajamento, outras motivações e papéis sociais. A aposentadoria é vivida como um novo período, voltado para atividades que podem proporcionar prazer e autorrealização. Os sentimentos são positivos e os projetos de vida fora do trabalho formal emergem facilmente (Costa & Soares, 2011). Nessa condição, a pessoa pode se dedicar a atividades de assistência ou de colaboração ativa em entidades beneficentes ou à própria família. Outra possibilidade é o direcionamento para atividades de construção e aprimoramento pessoal, em relações conjuntas ou centradas em objetivos pessoais, visando o autodesenvolvimento.

Prof. Dr. José Carlos ZANELLI
Diretor do Instituto Zanelli – Saúde e Produtividade. Idealizador e Presidente de todas as edições do Congresso Brasileiro de Orientação para Aposentadoria. Autor de livros e artigos científicos sobre aposentadoria. Consultor para implantação de programas de preparação para aposentadoria nas organizações públicas e privadas, conferencista para sensibilização e instrutor de módulos de qualificação de agentes de preparação para aposentadoria desde 1993. (48)3335 0553/9983 6559 – jczanelli@terra.com.br

*Este é um trecho extraído do artigo: Zanelli, José Carlos. Processos Psicossociais, bem-estar e estresse na aposentadoria. Rev. Psicol., Organ. Trab.Vol.12, n. 3. Florianópolis, dez. 2012.

Obs.: DIA 11/11 É O ENCERRAMENTO DO ÚLTIMO PRAZO DE INSCRIÇÕES AO IV CONBOA.

Deixe uma resposta

Comentários Recentes