Ponte de amizade – Boletim nº 7 – Dezembro 2007

Dois irmãos que moravam em fazendas vizinhas, separadas apenas por um riacho, entraram em conflito. Foi a primeira grande desavença em toda uma vida de trabalho lado-a-lado. Mas, agora, tudo havia mudado. O que começara como um mal-entendido, finalmente explodiu numa troca de palavras ríspidas, seguidas por semanas de total silêncio e afastamento. 

 Certa manhã, o irmão mais velho ouviu baterem à sua porta.

–  Estou procurando trabalho – disse o homem de roupas simples, cabelos grisalhos, longas barbas e segurando uma caixa. – Talvez o senhor tenha algum tipo de trabalho para mim! 

 –   Claro que sim – respondeu o fazendeiro. 

 –  Vê aquela fazenda ali, além do riacho? É do meu vizinho…na realidade, é do meu irmão mais novo. Nós brigamos e não consigo mais suportá-lo. Use aquela pilha de madeira que está no celeiro e construa uma cerca bem alta – ordenou.

– Acho que entendo a situação –  replicou o carpinteiro, acrescentando: 

 –   Mostre-me onde estão a pá e os pregos.

 Depois de entregar o material, o fazendeiro foi para a cidade. O carpinteiro ficou ali medindo, serrando e pregando madeira o dia todo. 

Quando o fazendeiro chegou, não acreditou no que viu: em vez  da cerca, havia uma ponte ligando as duas margens do riacho. Apesar de ser uma bela obra de arte, ele ficou enfurecido e resmungouu: – Você foi atrevido construindo essa ponte, depois de tudo que lhe contei!

O velho carpinteiro ficou imóvel, em silêncio profundo.  Ao olhar, com ares de frustração, para a ponte, o fazendeiro avistou seu irmão mais novo se aproximando, de braços abertos e sorridente.

Atônito, o fazendeiro manteve-se irredutível.

Foi quando o irmão mais novo falou: – Você foi realmente muito amigo construindo esta ponte, demonstrando ter perdoado o que aconteceu entre nós…

De repente, ambos estavam se abraçando, em prantos, no meio da ponte.

O carpinteiro lentamente se retirou, carregando sua caixa de ferramentas.

– Ei, espere! Tenho outros trabalhos para você! – gritou o irmão mais velho. E o carpinteiro respondeu: – Eu adoraria. Mas tenho outras pontes para construir.

A parábola acima é bastante sugestiva para este mês de dezembro, marcado não só pelas festas de Natal e Ano Novo.  Nessa época, as agendas estão repletas de reuniões e eventos de confraternização, seja na empresa, seja em associações de classe ou seja com grupos de amigos habituais.

Trata-se de uma excelente oportunidade de você experimentar fazer como aquele carpinteiro, ou seja: construir pontes entre você e seus parentes, colegas de trabalho, amigos, conhecidos mais distantes e, principalmente, desafetos (eventuais inimigos, rivais, concorrentes e outras pessoas que julgamos inconvenientes).

Desfaça as cercas e os muros, muitas vezes transparentes, que existem nos relacionamentos humanos e crie essas pontes, que podem ser de concreto, pedras, tijolos ou madeira. O material não importa. O que vale é que sejam sustentadas nos pilares do perdão, do entendimento, do diálogo e do respeito.

Pode ter a certeza de que você vai estar contribuindo significativamente para um mundo melhor. Que seja mais solidário. Mais fraternal e compreensivo.

Só para lembrar, o Muro de Berlim já caiu faz 17 anos, representando uma nova fase histórica no relacionamento entre as nações e seus habitantes.  Aliás, meu sonho seria ver pessoas das mais diferentes etnias, raças e credos se darem as mãos e, literalmente, construir uma ponte humana em volta da terra, totalizando um raio de 39.840 km.

Enquanto isso não acontece, comece você mesmo a construir, ou reconstruir,   uma autêntica “ponte da amizade”  em torno de  seu raio de ação – ou de relacionamentos. Você verá que é um trabalho bastante leve, gratificante e alentador.  Em vez de cimento, cal e vigas, você precisa só de uma mistura de  vontade e humildade.

Portanto, neste Natal e Ano Novo, dê um presente a você mesmo e àqueles que o rodeiam. Construa sua ponte da amizade.  Baseada em valores como amor, respeito, confiança e ética, essa obra da arquitetura humana seguramente vai suportar as águas turbulentas da vida, que por baixo dela vão passar.

Boas festas e um feliz Natal a você e seus queridos familiares.

Armelino Girardi.

Para reflexão:“Na jornada da vida, muitos atravessam a ponte errada, outros queimam a ponte certa; e o resto tenta se virar numa canoa furada.” (Eugene Raudsepp).

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