O resgate da identidade pessoal – Boletim nº32-Setembro 2009

Um dos passos fundamentais na transição do mundo do trabalho formal para a desaposentadoria plena é resgatar a identidade pessoal. Nesse processo, o desaposentado precisa também fazer uma descontaminação mental. No mundo corporativo temos de literalmente colocar várias máscaras, independentemente de posição hierárquica. Claro que na vida íntima a gente por vezes tem de usar algumas máscaras, dependendo da situação, mas no meio profissional tais “adereços” são supervalorizados e até incentivados, com a ressalva de que podem deixar marcas profundas e permanentes na personalidade. Afinal, no mundo dos negócios, a pessoa é avaliada pelo que aparenta ser e não necessariamente pelo que é.

Seria ingenuidade minha afirmar que isso não existe. Ocorre que, ao se aposentar, muitas pessoas não conseguem se desvencilhar facilmente dessas máscaras, que as levaram a incorporar a identidade profissional/organização em detrimento da autêntica identificação pessoal. Esse pode ser um fato restritivo no processo de busca da desaposentadoria plena.

Outra consequência dos anos de trabalho é a perda da autonomia, mais especificamente no que se refere aos aspectos ligados à iniciativa própria e ao poder criativo, uma vez que a pessoa foi de certa maneira “formatada” conforme os interesses e demandas de sua atividade profissional e organização. O resultado são rotinas que não mais se coadunam com a realidade de desaposentado.

Afinal, é o trabalho que organiza a atividade humana, pois absorve uma quantidade de tempo muitas vezes desproporcional durante a maior parte da vida das pessoas. As atividades profissionais, familiares, o lazer, os horários e toda agenda de compromissos é definida a partir das exigências do trabalho. Na verdade, a profissão, o trabalho e os compromissos decorrentes são os meios de fazer as pessoas se sentirem inseridas na sociedade produtiva e de consumo. Os colegas de trabalho são uma rede social instantânea. Dessa forma, podemos afirmar de que a estrutura e rotinas do trabalho modelam e controlam as nossas vidas.

Muitas pessoas passam pela vida valorizando uma série de coisas e se esquecem de sua essência. É preciso uma viagem para dentro de si mesmo para retomar o caminho de nossa verdadeira identidade.  É como o “filho pródigo”, que primeiro pensa que a vida é desfrutar de aparentes alegrias, mas quando se dá conta,  sente a amargura de ter se afastado de si e redescobre a casa do pai, onde é acolhido com alegria e se sente feliz.

O resgate da identidade pessoal nos leva a um encontro com nós mesmos, com nossa autenticidade. A aposentadoria surge como a grande oportunidade de fazer esse resgate, pois, assim como as águias o homem estará diante de duas alternativas: aposentar-se do trabalho e da vida ou, então, enfrentar um processo de renovação e transformação, só que nesse caso também interior, já que possuímos a capacidade de pensar.

Precisamos nos conscientizar de que, apesar da aposentadoria, a vida continua e temos todo o segundo tempo pela frente. Com os avanços da medicina, a expectativa de vida aumentou e, com ela, a qualidade de se viver.

Na maioria das vezes, em virtude de vivermos nesta sociedade altamente competitiva e consumista, que valoriza o belo e o jovial, é dada extrema importância aos aspectos estéticos, relegando-se a um segundo plano o lado interior de cada ser, como o conhecimento e experiência acumulados.

Nesses tempos modernos, as mulheres e, agora, significativa parcela dos homens passaram a dispor de avançadas técnicas médicas e cosméticas de rejuvenescimento facial e corporal – o que implica dizer mudanças apenas na casca, não necessariamente na cabeça, isto é: nos hábitos de vida e na maneira de pensar e agir. Isso só pode ser alcançado a partir de um determinado esforço de autoconhecimento e entrega espiritual.

Mas, convenhamos: de nada adianta essa nova roupagem se o essencial continuar inalterado: o jeito de pensar e agir. E é justamente quando se aproxima a hora da aposentadoria que nos damos conta da importância de se promover também mudanças na maneira de enxergarmos a vida e nos prepararmos para essa nova etapa que está batendo às portas dos nossos corações e almas.

Dentro desse processo de transformação pessoal, objetivando sua saúde física e mental nessa fase de transição do mundo corporativo para um universo mais holístico, julgo relevante você também se questionar a respeito de seus novos desafios pessoais, despertando para o prazer de fazer o que gosta.

Portanto, aproveite a aposentadoria para resgatar a si mesmo como um indivíduo único e insubstituível e deixe, gradativamente, o  mundo corporativo na busca de um universo mais individualizado, personalizado e empreendedor. Siga o exemplo das águias e renove-se para novos e altos voos.

Que Deus o(a) proteja junto a seus familiares.

Um fraternal abraço e até o próximo artigo,

Armelino Girardi

Para reflexão: Preparar as pessoas para a aposentadoria também é sustentabilidade. Mais informações no site www.desaposentado.com.br

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