Por que a COP 15 de Copenhagen fracassou? – Boletim nº 38 – Fevereiro 2010
Ao final do evento que reuniu mais de uma centena de Chefes de Estado e seus ministros, produziu-se nada mais que algumas melancólicas linhas de um texto vazio que pouco ou nada significa. O acordo de Kyoto finda em 2012 e em Copenhagen nada se produziu para prolongá-lo ou o substituir por algo mais avançado. O caos, a poluição e a devastação ambientais avançam e as ações saneadoras retrocedem pela contramão, agravando o problema mundial.
No final de 2010, o México deverá sediar nova conferência do clima. Merkel, a primeira ministra alemã, pressionada por uma cidadania mais ecológica, já chamou uma conferência preparatória para a cidade de Bonn, em meados de 2010.
Se o fracasso de Copenhagen não for remediado a curtíssimo prazo, o nosso planeta febril e gravemente doente estará enfrentando o seu mal, exatamente como um paciente em UTI, quando os médicos lhe dizem: nada mais nos é dado a fazer. Foi isso que lá vimos. Não podemos permitir que o planeta saia da UTI para o necrotério, por incompetência desses curandeiros políticos que lá fracassaram.
É preciso salvar a Mãe Terra. Copenhagen não foi uma conferência de clima, mas de negócios. Países ricos tentando pagar a conta que devem do passado poluidor comprando o direito de mais poluir no futuro e pagando o mínimo possível com uma moeda podre que apelidam de Crédito de Carbono. Este “crédito” possivelmente vire pó no contexto de uma próxima crise financeira global de derivativos. É o grande capital comprando o direito de continuar a poluir sem a responsabilidade de diminuir sua emissão de gases estufa. De outro lado, os países pobres de chapéu na mão para captar esmolas em troca da preservação. Os emergentes, China, Índia e Brasil à frente, querendo assegurar o direito de, em breve, serem iguais aos ricos.
O que lá se tentou fazer foi puro “business”. Há décadas sou ecologista e me preocupo com essa questão. No âmbito da vida privada procuramos manter padrões ecológicos de comportamento familiar. Como empresário ou executivo sempre me empenhei para que a responsabilidade social de minha instituição estivesse focada também na questão ambiental. Procuro fazer minha parte. Aliás, como todos deveriam fazer. Mas, só isso não basta mais. Separar o lixo, poupar energia e água é importante, mas, não salvará o mundo só assim.
O equilíbrio já foi rompido, em nível planetário. O Planeta não suportará 10 bilhões de pessoas consumindo nos atuais padrões. Da questão demográfica nem sequer se falou em Copenhagen. Embora a solução ainda passe por comportamentos individuais e ações locais, temos de reconhecer que o receituário da Agenda 21 elaborada na conferência Rio/92 está defasado, exatamente por que foi pouco ou nada seguido no Brasil e mundo afora.
Afinal, ainda podemos ter esperanças de um mundo melhor? É a pergunta que todos fazemos. Sim, respondo com minha mais firme convicção. Há esperanças e o mundo não vai acabar amanhã. Mas, pode melhorar ou piorar muito na exata proporção do que for feito agora pela humanidade.
Qual é o caminho então? Quem decidirá essas questões sempre serão políticos com mandato eletivo. As pessoas certas estavam lá. Mas, eles jamais farão o que lhes recomendar a comunidade científica internacional ou os ecologistas de plantão. Sempre farão o que lhes for eleitoralmente mais proveitoso no âmbito interno de seus países e mais conveniente aos “lobbies” e poderes econômicos que os financiaram e elegeram.
Portanto, só há um caminho. É transformar a questão ambiental, definitivamente, na agenda prioritária, ao lado da educação, da saúde, da segurança e do crescimento, colocando-a no mesmo patamar. É tempo de se fazer a sustentabilidade. As bancadas nos parlamentos, não importando se de países, estados ou cidades, têm de ser mais comprometidas com a agenda sócio-ambiental do autêntico Desenvolvimento Sustentável. Quem tem de determinar isso é a sociedade e os eleitores, a quem os parlamentares, estadistas e mandatários de todas as cores partidárias devem contas. Quando isso começar a acontecer a partir do voto popular, no Brasil e mundo afora, aí sim teremos conferências de clima a favor da vida e não mais de negócios.
“Nada é mais forte do que uma ideia cujo tempo chegou – Victor Hugo”. É chegado o tempo de sermos todos menos materialistas e mais humanistas ecológicos.
Rubens Hering
Economista e Ouvidor da PARANAPREVIDENCIA.