Já posso me aposentar! E agora? – Boletim nº41 – Abril 2010

Faz um ano que deixei a vida corporativa como executiva. Adquiri o direito e me permiti abandonar algumas atividades em favor de outras. Questão de opção. E que opção complicada!

 Não é fácil obter a autoautorização para que não se tenham mais compromissos tão rígidos, agenda tão lotada, e-mails às centenas, viagens, telefonemas e tudo o que faz parte da vida moderna das corporações. O novo sempre assusta pelo desconhecido que traz, especialmente quando se tem uma situação confortável.

 Também não é fácil liberar-se das amarras do empregador. Não ter mais as facilidades ligadas ao mundo da informática e a possibilidade de se manter atualizado na área dos negócios… Nunca se sabe como serão os novos tempos! Ter que se arranjar sozinho com relação a sistemas operacionais, hardware, back ups, falhas de sistemas, impressoras, treinamentos, atualizações…

 Como é difícil abrir mão de um salário bom, pago em dias fixos, para viver da aposentadoria do INSS, do plano de previdência complementar e, se necessário, do rendimento das economias… A dúvida é angustiante: continuar por mais um, dois ou três anos e ganhar um valor importante, acrescido de variáveis e benefícios, ou se retirar dessa vida …?

 Igualmente difícil é deixar os colegas e amigos da empresa. Como será então? Será fácil fazer novos amigos? Os amigos antigos se manterão? A pessoa será sumariamente esquecida e condenada a uma vida solitária?

 Ah! Como todas essas reflexões nos atormentam no processo de escolha: “já cumpri minha missão profissional número 1 e posso me dar o direito de começar a missão número 2, de aprender e trilhar novos caminhos e me manter ‘em forma’, no sentido mais amplo que se possa imaginar.” Dificilmente pensamos de maneira inversa: “O que poderei ganhar se me retirar após ter cumprido a missão 1?”

 Com essa inversão de raciocínio, conclui-se ser possível utilizar a ampla bagagem para ganhar dinheiro, se assim o desejar; aprender coisas novas; conhecer novas pessoas e lugares; curtir a nova família – normalmente já maior nessa fase, com a terceira geração despontando! Pode-se também decidir o que, quando e como queira. Um sentimento muito bom de liberdade e descontração.

 Tudo isso, no entanto,  tem um preço e, neste caso, é a idade que avança, o medo de envelhecer, o medo do fim. Temos que nos preparar para que esses medos sejam superpostos pelo sentimento de missão cumprida, de realização de um sonho, de finalização de uma jornada para início de outra que, se bem planejada, poderá ser muito alegre e produtiva!

 E como estou agora que já se passaram 14 meses da minha saída? Decidi não tirar férias imediatamente após deixar  a vida executiva. Achei que, se interrompesse o ritmo em que vinha, não seria bom. Reduzi-o, mas me mantive em atividade e hoje percebo que foi uma decisão acertada. Aproveitei aquele momento para ativar meu network, informando a todos sobre meus planos, que atividades pretendia desempenhar, e ouvindo muitas sugestões sobre a melhor forma de começar.

 Estou conseguindo aplicar as competências pessoais e profissionais e os conhecimentos adquiridos durante minha atuação em grandes empresas multinacionais. Já não é mais um problema ter que me arranjar sozinha com as questões de informática. Fiz algumas parcerias com outros consultores e profissionais de diversas áreas para que possa haver a troca de ideias e colaboração, minimizando a solidão profissional.  Também tenho ministrado algumas aulas em cursos de MBA´s e pós-graduação, o que me obriga a estar em constante atualização, a pesquisar conteúdos relacionados à gestão empresarial, além de redigir alguns artigos.

 Outras competências que tenho desenvolvido e exercitado são a criatividade para encontrar soluções que atendam a perfis tão diferentes de empresas, a flexibilidade para trabalhar com bem menos recursos do que estava acostumada e para entender as diversas culturas e a diversidade de pensamentos, a adaptabilidade a novos contextos, o desenvolvimento do network em segmentos bastante variados e a capacidade para aprender e absorver novas formas de atuar.

 Concluindo, estou convicta de que o planejamento realizado foi extremamente importante: o nome construído e a credibilidade adquirida em anos de atuação e o envolvimento na comunidade empresarial através da participação ativa em vários fóruns profissionais, aliados a uma boa dose de espírito empreendedor, saúde e energia para o trabalho me possibilitaram agora a colheita dos frutos e o sentimento de realização. Estou muito bem! Feliz “desaposentada”! Façamos da aposentadoria uma ponte para um novo mundo! Lembremo-nos de que, se não ousarmos transpô-la, poderemos ter sempre a impressão de que era do lado de lá que “todo balão caía e toda maçã nascia”, como cantava a velha modinha.

Sônia Gurgel

Presidente da ABRH-PR (Associação Brasileira de RH do PR) e Consultora em RH

Sonia@rhsoul.com.br

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