Qual o meu próximo passo ao me aposentar? – Boletim nº 42 – Abril 2010
Esta é uma pergunta que todos nos fazemos, principalmente na época de uma grande transição como é a aposentadoria. Todos têm muitos potenciais, alguns reconhecidos e outros desconhecidos, que podem estar sendo sub-utilizados em nossas atividades. É muito comum vermos gente que estudou uma especialidade e na vida profissional exerce atividades totalmente diferentes, assim como tem muita gente que suspira ao dizer que gostaria de estar fazendo outras atividades, que acham que não os sustentariam. A época da “desaposentadoria” é a mais adequada para este novo passo.
Não são poucos os que gostariam de estar numa atividade terapêutica, ou artística, ou ainda num pequeno (ou grande) negócio de alimentação ou hotelaria, mas acham que isto tem muitos riscos e não lhes proveria o sustento. E acabam se tornando pessoas desmotivadas, sem o “brilho nos olhos”. Muitos, talvez, gastaram sua vida num trabalho que consideravam chato e aborrecido e não investiram tempo e energia naquilo que é verdadeiramente sua vocação (de vocare = chamado). A paixão pela tarefa havia desaparecido em suas vidas, que se tornaram cinzentas e pesadas. Mas isto pode ser revertido, a paixão pode ser resgatada.
Quando entramos na temida fase da “aposentadoria”, precisamos tomar a decisão: qual será meu próximo passo? O que devo fazer? Devo insistir no ramo em que trabalhava ou mudar para outro? Devo me tornar um consultor? Como conciliar um maior tempo para mim com demandas de um novo trabalho? Devo investir num novo curso para aprender novas competências? Devo mudar de cidade? E assim se sucedem inúmeras perguntas.
Na abordagem sistêmica das Constelações Organizacionais existe a técnica da “integração de currículo”, que pode ser utilizada tanto num grupo montado para este fim, como para as pessoas individualmente. Consiste basicamente em a pessoa escolher algumas pessoas que são referências em sua vida, tanto no sentido positivo (um excelente professor / um líder admirado) como no sentido negativo (um chefe tirânico que ensinou como as coisas não devem ser feitas). Acrescenta-se um elemento adicional, denominado “o meu próximo passo”. E aí se inicia um construtivo diálogo da pessoa com estas referências, onde geralmente acontece o reconhecimento e respeito por contribuições que cada um fez na vida da pessoa, ou a conscientização de quão importantes foram algumas palavras ou exemplos de cada um. Isto vai dando uma plenitude para a pessoa, que passa a ver de uma forma mais integrada e panorâmica sua trajetória pessoal e profissional (daí o nome “integração de currículo”), o que se constitui num embasamento para a próxima etapa, que é o diálogo com o próximo passo da carreira, onde são colocados os cuidados que as alternativas da decisão exigem, a lembrança do manter-se fiel a seus valores e potenciais, a consideração se a pessoa está preparada ou não para este passo, a conscientização de quais novas habilidades e treinamentos serão necessárias e outros fatos relevantes para a decisão. Neste tipo de vivência é possível também identificar eventuais “emaranhamentos”, situações que ficaram mal resolvidas no passado e que precisam ser aclaradas, pois seus efeitos negativos muitas vezes impedem o uso pleno do potencial de cada um. Nestes emaranhamentos podemos citar, por exemplo, uma demissão considerada injusta, uma “puxada de tapete” que um colega deu, um acontecimento traumático na vida de uma empresa, o sentimento de exclusão de uma equipe, e tantas outras possibilidades.
A experiência de numerosas pessoas atendidas mostra que esta abordagem é extremamente útil para as decisões que a pessoa deve tomar, dando por um lado um alicerce e realismo às suas expectativas e necessidades, e por outro uma tranqüilidade pessoal pelo reconhecimento de suas fortalezas e fragilidades, bem como o delineamento das ações que deve tomar.
Gustavo G. Boog