Por que meditar? – Boletim nº 43- Maio 2010

Já nascemos nostálgicos de Deus. Humanos, portamos a centelha divina. Feitos à Sua imagem e semelhança, d’Ele sentimos falta. Deus é o nosso suprimento e conosco se identifica, tanto que o sacrifício do Seu Filho resgatou a humanidade de todos os tempos. Negando a dor, a desigualdade e a injustiça, trouxe-nos o presente da vida eterna com a sua Ressurreição, unindo-nos à essência do Criador.

Em Jesus temos origem definida e essa graça nos dá objetivo: vivermos um coração puro, uma conduta boa em atitude de amor constante. Fraquejamos se não estamos bem com os irmãos. Quando insuflados pela caridade, caminhamos com destino porque amar é uma decisão e suas consequências são comprometedoras: comungam-nos com os irmãos, unem-nos a Deus.

O retorno almejado desde sempre a Ele exige, portanto, conhecer a nós mesmos e aceitar os outros. Este desejo humano nos relaciona com Deus. Precisamos d’Ele e manifestamos isso na espiritualidade que experimentamos. Ligamo-nos à Trindade através da oração recitada, cantada, repetida, pensada, compatíveis maneiras de Lhe falar. A prática da meditação favorece esse encontro para vivermos o ensinamento de Jesus no aqui e agora, percebendo a presença de Deus em nosso dia a dia.

Do latim, meditatio é a ação de meditar, nunca passiva, pois exige preparação, empenho, concentração. A quietude do coração acalma o nosso espírito alvoroçado do tempo presente. Meditar opõe-se à dispersão e a “viajar”, não é modismo, é exercício do espírito, esforço para sair de nós e alcançar Deus, que nos fala no silêncio. Meditar é esvaziar-nos, zerar a mente, colocando-nos à disposição do Pai para que ocupe o espaço, instrumentalize o nosso ser, conforme a Sua vontade. Meditar é deixar-nos trabalhar por Ele.

A modalidade de Meditação Cristã vem da tradição católica ocidental, quando monges do século XIV inspiraram-se nas pequenas coisas, na pobreza e no despojamento do Verbo feito carne. Valorizaram a oração meditante. Oração contemplativa, oração centrante, meditação cristã têm sintonia fina com Deus, ponte para viver entre irmãos. São primazias: a simplicidade e a perseverança. O espaço e o tempo são exclusivos. Sentamo-nos, coluna ereta, olhos fechados, respiramos profundamente e repetimos o mantra com vagar. A expressão condutora pode ser maranatha, em aramaico “Vem, Senhor”. Na meditação entregamo-nos a Deus que invade nossos poros, sentimentos, entranhas, num encontro desprovido de súplicas e agradecimentos. Basta postar-nos e Ele faz maravilhas. Começamos, então, a aprender a escutá-Lo.

 

Silvia Maria de Araújo

Socióloga, Professora Sênior da UFPR

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