Família–A recriação de uma necessidade – Boletim nº53 – 20 dezembro 2010
É muito estranho, quase artificial, afastar-nos do miolo das relações do dia a dia da família em que vivemos para lançar um olhar mais largo sobre a família como instituição social.
As análises sociológicas preocupam-se com o destino da família moderna, visto que ela foge às concepções e modelos estabelecidos e tem demonstrado surpreendente capacidade de adaptar-se e adaptar situações. O fenômeno apresenta ambiguidades; interpretações polarizadas e antagônicas estão lado a lado. Se alguns apregoam apocalipticamente o término da família comum com base nos laços de sangue, há os que vêm um renascer mais e mais vigoroso não apenas da família padrão nuclear – pai, mãe e filhos – mas de muitos possíveis arranjos familiares de pessoas vivendo afeto sob o mesmo teto.
Padrões culturais de comportamento convival, internalizados num processo permanente de socialização, se reproduzem, alteram-se e recriam formas novas de família para um viver antigo. Respondem ao conjunto de mudanças intensas que a modernidade nos traz e, por isso, as teorias sociais custam a dar conta do fenômeno família-hoje. Esta escapa a tipologias, previsões e classificações, simplesmente perdura com feições renovadas.
As primeiras necessidades do ser humano são satisfeitas na família. O aprendizado dos referenciais elementares de relacionamento social dá-se na família. A família constitui, portanto, a versão mais compacta do network, a teia de relações em que nos enredamos, capazes de nos fazer humanos, sociáveis, políticos, pessoas plenas para o exercício da cidadania.
Qual mãe, a família insufla vida, abriga e desprende-se dos seres que gera e entrega ao mundo, verdadeira figura angular da continuidade da espécie e manutenção da essência humana. Em seu interior as mudanças são processadas necessariamente de modo experimental e embrionário, mas o suficiente para garantir aos seus membros o enfrentamento das rupturas e a perseguição às descontinuidades que cada vez mais nos assolam. Nesse sentido, a família desempenha importante papel para a permanência da sociedade.
Em se tratando de família, este momento de mais um Natal pede um voto de confiança a ela. Voltemos os olhos para o potencial de aconchego de que ela é capaz e todo ser humano precisa. Afinal, a era cristã não começou a partir de uma perfeita Família?
Bendita seja a Família-Trindade! Que ela estenda a nós a magia de transformarmos a nossa família em um lar. Muitos problemas pessoais e sociais se dissolveriam se estivéssemos atentos a não só embalar o Menino com presentes, mas mantê-Lo acordado dentro de nós.
Feliz Natal o ano inteiro
Silvia Maria de Araújo
Socióloga, Professora Sênior da UFPR