Aposentadoria: parte do processo de envelhecer – Boletim nº 74
A velhice existe? Muitos envelhecem porque têm medo do novo, se fecham a novas ideias, se tornam radicais e não amadurecem. Outros envelhecem porque deixam de lutar, pensam demasiado em si e se esquecem dos demais.Todos nós estamos matriculados na escola da vida onde o mestre é o tempo.
Nos olhos do jovem arde a chama, nos do velho brilha a luz. Envelhecer sem sabedoria não é envelhecer. Não deixe que a tristeza do passado e o medo do futuro estraguem sua alegria do presente. A vida não é curta; são as pessoas que permanecem mortas por tempo demasiado. Faça da passagem do tempo uma conquista e não uma perda.
Mais cedo ou mais tarde todos nós vamos envelhecer. Faz parte da natureza humana. Portanto, é preciso aceitar as transformações advindas dessa transição e não o que a mídia impõe, ou seja, a supervalorização da estética e do vigor físico em detrimento da maturidade e da experiência.
O psicólogo e antropólogo Roberto Crema (Espírito na saúde – Vozes 1997), afirma que “(…) não é da natureza humana envelhecer. Nós passamos. As montanhas passam, as estrelas passam, os rinocerontes passam e nós também passamos. (…) Somos caminhantes, seres de passagem. Perguntaram ao poeta Jorge Luiz Borges: “Você tem medo de morrer?” Ele respondeu: “Não. Tenho medo é de não morrer! É belo estar de passagem. É belo ser peregrino. É belo constatar que a nossa estrada é sempre uma ponte…(…) A primeira estação é a primavera, estação das flores, (…) do desabrochar juvenil. Esta é a primavera da existência, bela e florida”.
Para o autor, vem na sequência a juventude do verão “…é quando deixamos nossas raízes no solo da cidadania e nos fazemos seres da comunidade.(…) É quando estamos sendo úteis, …buscando nossa identidade, …a nossa diferença, buscando realizar uma promessa que fizemos a nós mesmos quando nos convocamos a encarnar neste espaço-tempo”.
Mais adiante ele fala do outono, como a estação dos frutos: “É quando nossas árvores ficam carregadas e temos o que oferecer. Flores transmutadas em frutos. (…) Velhice é no outono querer viver a primavera. Velhice é paralisia do processo, é não se atualizar.(…) É no outono da existência que precisamos transmutar os valores do ter, do poder, do parecer, para os valores do ser”.
Por fim, Crema fala da juventude do inverno: “É quando nos recolhemos. É a estação da prece, do silêncio. Nela constatamos que caminhamos toda uma existência para, ao final da viagem, retornarmos à nossa própria casa de onde jamais partimos”.
Existe uma grande diferença entre ficar velho e crescer. A ideia é crescer através da contínua busca de oportunidade nas novidades – e a aposentadoria traz muitas novidades. Isto não precisa de muito talento ou habilidade. A ideia é crescer sempre encontrando a oportunidade de mudar. Não tenha remorsos. Os idosos geralmente não se arrependem daquilo que fizeram, mas, sim, por aquelas coisas que deixaram de fazer.
O aposentado desfrutará sua velhice como consequência do que foi sua vida. Ninguém é o que é por acaso, mas fruto de como viveu cada uma das etapas da vida, dos seus sonhos e de sua capacidade e vontade de transformá-los em ações. Prepare-se, pois, para encarar o envelhecimento como uma evolução e não como uma involução, como um recomeço e não como um fim, como um ir à frente e não como um retrocesso.
Não é correto afirmar que existem diferenças entre ser velho e idoso. Ambos querem dizer a mesma coisa. Mas podemos assegurar que existe, sim, uma grande diferença entre “Ser de projetos” e “Ser de pijama”, como você poderá verificar no quadro que segue.
Ser de projeto Ser de pijama
Quando sonha Quando apenas dorme
Expectativas: sonhos e ideais a realizar Apatia, nada a acontecer
Prevalência da identidade Prevalência do trabalho
Quando ainda aprende Quando já nem ensina
Estar sendo, ativo Ter sido, ultrapassado, acomodado
Quando se exercita Quando apenas descansa
Se renova a cada dia que começa Perde o foco a cada noite que termina
Quando o dia de hoje é o primeiro do resto de sua vida Quando cada dia parece o último da longa jornada
Tem plano para o futuro Vive do passado
Quando dá amor e recebe Quando só sente ciúmes
Quando seu calendário tem amanhãs Quando o calendário só tem ontem
Quem tem muita idade Quem perdeu a jovialidade
Tem seus olhos postos no horizonte, de onde o sol desponta e Tem sua miopia voltada para as sombras do passado
ilumina a esperança
O tempo passa rápido e a velhice nunca chega Suas horas se arrastam destituídas de sentido
Leva uma vida ativa, plena de projetos e de esperança Parou no tempo e no espaço
Tem brilho nos olhos Olhar cabisbaixo
As rugas são bonitas, marcadas pelo sorriso As rugas são feias, vincadas pela amargura
Curte a vida Sofre, o que o aproxima da morte.
Que Deus o (a) proteja junto a seus familiares
Um fraternal abraço e até o próximo artigo,
Armelino Girardi
Consultor em desenvolvimento de pessoas e autor do livro Desaposentado melhor agora, além de criador e mantenedor do Clube dos Desaposentados – www.desaposentado.com.br