A aposentadoria em múltiplas perspectivas – Boletim nº 84

A aposentadoria é um evento que conserva, em muitos aspectos, as características atribuídas por nossos antepassados e por aqueles que, em décadas nem tanto remotas, desvincularam-se das atividades rotineiras de trabalho ou encerraram uma carreira. Do passado, repercutem os estereótipos que persistem no contexto social e ainda sujeitam os aposentados ou aposentandos menos alertas ou conscientes das novas possibilidades que decorrem das reconfigurações dos tempos recentes.

Os estigmas associados ao longo do tempo a este importante momento da vida continuam afetando negativamente, para muitas pessoas, seus modos de perceber a aposentadoria. Contudo, as mudanças do mundo nas últimas décadas tanto afetam as atividades e os locais de trabalho, como implicam em claras transformações no modo como as pessoas estão se relacionando e usufruindo seu tempo – no melhor sentido da palavra usufruir. Tais reconfigurações colocam em pauta revisões emergentes nos estudos, nas intervenções e no próprio modo de viver a aposentadoria.

Se aposentadoria é mudança e se não há mudança sem algum nível de estresse, a consequência lógica é que em alguma medida o fenômeno atinge quem passa por ele. O foco deve ser colocado em como se passa por ele. Quero dizer que diferentes pessoas têm diferentes percepções do que é um estressor, se é que a pessoa percebe a aposentadoria como estressora ou um conjunto de estressores. Mais do que isso, pode-se aprender com qualquer passagem na vida, mesmo quando tensões são inerentes à vivência. Sabe-se muito bem que mudanças trazem em si potencialidades para replanejamentos e recomeços.

Quando bem vivido, o estresse pode ser um ativador de descobertas e de aproveitamento das competências pessoais que foram acumuladas. Em contrapartida, quando a pessoa não desenvolveu recursos suficientes de enfrentamento, pode resultar em um processo negativo, no sentido de que inibe ou constrange alternativas saudáveis. Abre portas para manifestações desagradáveis ou nefastas, tanto para quem está na transição, ou em etapas posteriores, como para seus familiares, amigos e outras pessoas.

Uma situação ou um momento de vida é um conjunto de contingências ou circunstâncias que, para alguns, são percebidas como rotineiras, comuns ou até prazerosas. Para outros, os mesmos estímulos ou eventos são percebidos como preocupantes ou ameaçadores. Em outras palavras, muitas vezes, de forma pouco consciente ou não consciente, a pessoa percebe na situação uma demanda que vai além dos recursos que ela imagina possuir. Ou seja, a resposta aos estressores – relembremos que não há vida sem estresse – varia de pessoa a pessoa. Considerar algo ou uma situação estressora, no sentido de uma ameaça, depende da maneira como ela interpreta a relação entre as exigências e os recursos (competências) disponíveis. Com isso, não quero dizer que algumas situações deixem de ser objetivamente ameaçadoras, como, por exemplo, ser acometido por uma doença severa. Mesmo assim, alguns transitam por tal eventualidade de forma mais positiva do que outros.

Argumento, portanto, que a transição para aposentadoria é antecipada mentalmente (pré-ocupação) por aqueles que estão prestes a se retirar de uma carreira, ou mesmo bem antes, como um evento estressor, no sentido negativo do termo, como é largamente compreendido. O processo depende, em grande parte, de fatores cognitivos. Ou seja, de como a pessoa percebe e avalia o que virá. Quanto a isso, há evidências de que muitos desconhecem as possibilidades de ações de continuidade, outros distorcem a realidade (incluindo aqui os exageros dos otimistas em excesso ou dos pessimistas) e também os que desconhecem as próprias competências, desenvolvidas ao longo de décadas de vida.

Uma miríade de possibilidades se abre, cada vez mais, para as pessoas nesta fase da vida. Depende, está comprovado, das elaborações cognitivas, do controle emocional e das condições de continuidade de cada um. Uma dessas condições, é inegável, diz respeito ao controle financeiro e escolhas que foram e que serão feitas pelo aposentado, cônjuge e seus familiares. A boa notícia é que tais controles podem ser aprendidos. E não somente os financeiros.

Estes assuntos serão debatidos por estudiosos e profissionais qualificados, que têm se dedicado especialmente aos processos pertinentes a este momento de transição, em Florianópolis, nos dias 19, 20 e 21/7/2012, no II Congresso Brasileiro de Orientação para Aposentadoria nas Organizações.

Entre outras temáticas, o Congresso tratará do estresse na transição para aposentadoria: instrumentos e procedimentos práticos de prevenção e controle; pós-carreira, quadros de futuro e felicidade nos espaços de vida; técnicas e procedimentos para um programa de orientação para aposentadoria; psicologia econômica, arquitetura de escolha e planos de pensão; atividade física e exercício físico na aposentadoria; pontos críticos na aposentadoria e estratégias de solução; passo a passo para implantação de um programa de aposentadoria com sucesso; emoções, espiritualidade e relacionamentos sociais na aposentadoria; processos psicossociais de transição-adaptação à aposentadoria; a aposentadoria: um acontecimento, diversas interpretações; escolhemos sempre o que é melhor para nós? – psicologia econômica e decisões sobre aposentadoria; relatos de práticas de programas de orientação para aposentadoria; relacionamentos familiares e convívio intergeracional na aposentadoria; aspectos legais da aposentadoria e suas implicações psicossociais; pós-carreira: um mundo de possibilidades; assédio moral e aposentadoria.

Para mais informações, acesse: http://www.aposentadoria2012.com.br/

Dr. José Carlos Zanelli
jczanelli@terra.com.br

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