Aposentadoria: questão de dignidade humana a ser resgatada – Boletim nº 63
Em agosto de 2010, no 36º CONARH (Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas), promovido pela Associação Brasileira de RH, tivemos a satisfação de ministrar a oficina “Como construir um projeto de vida para depois da aposentadoria?”. Esse tema, pelo que me consta, foi abordado pela primeira vez em um congresso de RH, o que representa um avanço. No entanto, questionamos: se nós, responsáveis pelo desenvolvimento dos colaboradores, não abordamos tal temática, quem o fará? Falamos em geração X, Y, e como ficará a geração dos “baby boomers”?
Pela estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2030 o Brasil terá 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos, ou o correspondente a 14% da população. Diante desse quadro indagamos: o que será de todos esses cidadãos?
A aposentadoria é uma questão de cidadania e, sobretudo, de dignidade humana que precisa urgentemente ser resgatada.
Discute-se muito sobre a “revolução” de valores nas organizações – na intenção de olhar para o externo como parte integrante da vida que necessita ser devidamente cuidado e preservado –, em ética, transparência, cuidados com o meio ambiente, educação, cultura e lazer. Propaga-se qualidade de vida e bem-estar, e nas horas de crises, ligadas à redução de custos com pessoal, esses conceitos, muitas vezes, vão por água abaixo.
Quantas pessoas são vítimas das regras do jogo capitalista, em que colaboradores, após longos anos dedicados à organização, são simplesmente dispensados em nome de reestruturações, reengenharias, fusões, incorporações e cortes de custos.
Os manuais de conduta corporativa são deixados de lado justamente quando deveriam ser seguidos à risca. Não estamos generalizando, mas sugerindo a reflexão dos dirigentes das empresas e de profissionais da área de gestão de pessoas.
Sustentabilidade é o novo “mandamento” de atitude politicamente correta no mercado, integrando as estratégias de negócios e contribuindo com a sobrevivência das organizações. Se as questões ambientais e sociais estão finalmente sendo agregados à estratégia organizacional, por que não olhar sob um prisma humanitário os procedimentos relativos ao desligamento de pessoas para a aposentadoria?
A grande verdade é que o foco das atenções está concentrado nos recém-admitidos, por meio dos programas de trainees e na retenção de talentos. E como ficam as pessoas mais experientes e que deram sua vida às causas das organizações? Demissões e aposentadorias fazem parte da rotina das organizações. Os processos e métodos, no entanto, poderiam ser menos traumatizantes para diminuir esse impacto e suas sequelas.
Sugerimos uma singela pauta aos editores de revistas que –, anualmente, publicam rankings das “melhores empresas para se trabalhar” ou que são referências quanto a práticas de responsabilidade social, respeito ao meio ambiente e sustentabilidade – incluam, nos questionários de avaliação, tópicos para medir o grau de satisfação de seus aposentados e das pessoas demitidas nos últimos anos.
A ansiedade de quem está para se aposentar pode ser resumida em uma pergunta: “O que eu tenho medo de perder?” Como em muitas outras situações, o medo impede de enxergar que a aposentadoria pode ser uma das grandes oportunidades da vida, ou seja, uma travessia, um recomeço…
Preparar as pessoas para a aposentadoria é um dos grandes desafios da sociedade e organizações no século XXI. É preciso orientá-los para que esses cidadãos, ainda produtivos, possam encarar a nova realidade e o mundo – fora do trabalho formal – com autoestima elevada e a motivação necessária para prosseguir em outras atividades.
O programa deve ser estruturado com ferramentas práticas para criar uma nova estratégia de vida, ensinar a livrar-se de hábitos que não servem mais, desaprendendo rotinas e reciclando conhecimentos e fornecer orientação sobre como desenvolver uma nova e rica autoconsciência dos alvos e valores pessoais.
O investimento neste programa é uma verdadeira ação de cidadania e responsabilidade social, uma vez que se trata de justo reconhecimento a quem investiu valioso tempo de sua vida ao trabalho e à empresa e os colaboradores que dedicaram quase toda uma vida ao trabalho e à organização, terão, participando desse programa, a oportunidade de resgatar sua identidade pessoal, encontrando orientação prática para ocupar significativamente suas mentes e seus corações nessa nova fase da vida.
Temos certeza de que a possibilidade de essas pessoas darem continuidade aos seus sonhos faz parte dos objetivos maiores da sociedade, entidades e organizações responsáveis e solidárias.
Que Deus o(a) proteja junto a seus familiares!
Um fraternal abraço e até o próximo artigo,
Armelino Girardi
Para reflexão: “Eu devo aprender com o vinho a ficar melhor com os anos e, sobretudo, escapar do terrível perigo de me transformar, com a idade, em vinagre” ( Dom Helder Câmara)
Artigo publicado no Jornal Gazeta do Povo – 14 outubro 2010
Caso deseja ver a publicação, clique aqui.
Esta frase de dom Helder Câmara deve servir de alerta pois a tendência é nos transformarmos em vinagre pois nossa cabeça cheia de conhecimentos e experiências tende a querer que os jovens pensem como nós e então passamos a não mais aceitar novas idéias ou novas maneiras de ver o mundo .
Durante os quarenta anos que trabalhei com jovens sempre vi neles as fontes de mudanças e a cada dia luto para manter isso em minha mente pois quero que meus filhos e netos e todos os outros que comigo convivem me vejam como “um bom vinho.”
Um aposentado ou mesmo aquele(a) que trabalhou “viveu” muitos anos chega na velhice com um conhecimento, vivência, que deveria ser aproveitado para beneficiar os mais jovens. Em algumas sociedades, países, isso acontece pois os mais velhos não são considerados como um peso para os mais novos. Acredito que estamos caminhando nesta direção e esta frase de dom Helder Câmara nos alerta para isso, cabe a nós mais experientes mostrarmos que podemos, com nossos conhecimentos adquiridos, sermos úteis à sociedade nos tornando um vinho cada vez melhor.
Aposentadoria: questão de dignidade humana a ser resgatada – Boletim nº 63, este artigo retrata a realidade da maioria das empresas, que é a não valorização dos talentos, da capacidade do trabalhador em dar o seu melhor. O que vemos é uma concorrência cada vez mais acirrada e uma troca constante de trabalhadores, sem a devida análise de suas capacidades. Todas as empresas deveriam avaliar e capacitar para o futuro, apesar que o desempenho e o futuro a ser traçado depende de cada um de nós. A aposentadoria e o envelhecimento da população é uma realidade e temos que estar preparados e nos ajudar mutuamente, criando uma grande rede de ajuda mútua, para minimizar e construirmos um futuro digno.
Essa frase de Don Helder é muito sábia. A UTFPR está nos dando a oportunidade de repensar a aposentadoria e preparamo-nos para ela. Nem todas as instituições de ensino superior fazem isso Assim vemos pessoas “vinagres” ocupando posições de liderança e tornando outras pessoas “doentes” pois exigem delas o que nem sempre elas estão preparadas para u desejosas de fazerem. Sendo “vinho”, talvez aproveitassem as potencialidades dos que as rodeiam para uma contribuição mais efetiva e uma qualidade de vida coletiva melhor.
A frase de Dom Helder é realmente uma reflexão de muita sabedoria. Como vamos envelhecer se como vinho ou vinagre, é realmente uma escolha, individual. Chegar a terceira idade sendo um vinho sem dúvida é a melhor opção, fruto de anos de um trabalho exaustivo de autoconhecimento.