DESAPOSENTADORIA: Mais do que uma palavra… – Boletim nº 115
Neste artigo vou conceituar o que defino como desaposentadoria, respondendo, dessa forma, a diversas perguntas que recebo de leitores.
O termo desaposentadoria representa mais do que a simples equação representada pelo prefixo DES + palavra APOSENTADORIA. A proposta, como o termo sugere, é promover a desconotação, a desestigmatização e a desrotulação negativas que cercam essa fase de transição de vida. Valho-me desse prefixo para, antagonicamente, redefinir o tradicional e falso conceito de aposentadoria. Assim, emprego tal prefixo justamente para procurar inverter esse sentido.
O emprego da palavra desaposentadoria é comum em meus cursos, palestras e artigos. Certa vez cheguei a ser questionado se, com isso, não estaria denegrindo o termo clássico e reforçando a sua estigmatização. Nesses casos, respondo que minha intenção é justamente provocar questionamentos, reflexões e discussões sobre o papel do aposentado na sociedade moderna, bem como a conotação que o termo aposentadoria adquiriu no imaginário popular e no mundo corporativo. Por meio dessa saudável e virtuosa discussão, quero mostrar o grande “gap” (diferença) que existe entre o fato de se viver como aposentado “acomodado” e na condição de desaposentado.
A palavra aposentadoria vem do latim pausa, o que no português sugere parar, deter, ou, literalmente, recolher-se ao aposento, pôr-se de lado. Todos esses sentidos correlatos estão fortemente ligados à ideia de descanso, em termos de parada, de fim do caminho, de ociosidade, inatividade e outros tantos adjetivos mais depreciativos do que enaltecedores. Digo isso porque parar, descansar, retirar-se é a tradução literal da palavra em diversos idiomas.
Portanto, não é de estranhar que até hoje, culturalmente, a aposentadoria seja interpretada como sair da ativa, retirar-se, recolher-se (aos aposentos).
Na língua inglesa é “retirement” (retirada), no sentido de recolher e de viver também para os seus pensamentos. No francês é retraiter, no sentido de retrair. Em espanhol o termo utilizado é jubilar (se), derivado de jubileu.
Ademais, você já notou que aposentado, no inconsciente das pessoas mais pessimistas, rima com desocupado, discriminado, despejado, desatualizado, desanimado? No imaginário popular, aposentadoria significa recolher-se ao seu solitário e monótono aposento caseiro munido daquilo que costumo definir como o Kit Aposentadoria: pijama, chinelos, cadeira de balanço, jornal, palavras cruzadas, TV com controle remoto…
Faço questão de salientar que aqui também não vai nenhum demérito aos itens que compõem o kit aposentadoria. Do pijama ao jornal. Da cadeira de balanço à televisão, cada figura tem seu significado particular, desde que usada adequadamente e, sobretudo, moderadamente. O que quero mostrar é que usar pijama é ótimo, mas não, necessariamente, o dia todo. Ler jornal ou livros, assistir à TV ou ficar conectado à Internet são hábitos indispensáveis para se manter informado. Palavras cruzadas são exercício para manter a mente ativa. Enfim, tudo é válido para preencher o tempo vago, desde que não vire a principal rotina diária e não substitua as horas antes dedicadas ao trabalho.
O que proponho não é abandonar o kit aposentadoria, mas incentivar que a pessoa procure outras formas produtivas de passar o tempo, com atividades que reforcem sua autoestima e o senso de pertencimento. Com a definição de desaposentadoria, propositadamente quero criar um impacto inicial positivo nos leitores, com o propósito de desconstruir sua atual conotação nos âmbitos popular, corporativo e familiar.
Nesse raciocínio, desaposentadoria poderia ser, portanto, sinônimo de ocupação, atividade, bem-estar físico, mental, espiritual e emocional. Ou significar tranquilidade, realização pessoal e harmonia familiar. Ou ainda, amor em seu estado mais supremo e felicidade em sua plenitude.
Mas deixo sua definição em aberto para ser estabelecida a partir do ponto de vista de cada leitor, de modo a não correr o risco de rotular. Um conceito, no entanto, parece-me básico: “Ocupar a cabeça, a mente e o coração com algo que lhe dê prazer, seja em atividades remuneradas ou não, com o propósito de reforçar a sua autoestima e fazer com que se sinta útil e necessário à sociedade.”
Dessa forma, posso concluir afirmando que desaposentados são os aposentados que continuam sonhando, que transformam os sonhos em projetos e os projetos em vida.
Que Deus o(a) proteja junto a seus familiares.
Um fraternal abraço e até o próximo artigo,
Armelino Girardi
Palestrante e consultor em desenvolvimento de pessoas é o criador e mantenedor do portal www.desaposentado.com.br, idealizador e catalisador do Clube dos Desaposentados. É autor do livro “Desaposentado: melhor agora” e co-autor do livro “Agora e sempre a vida é um projeto – Uma visão ampliada da vida”.
Sou aposentado desde 1993 porém continuo trabalhando e recolhendo INSS até a presente data.Gostaria da orientação sobre a desaposentadoria.
Olá Pedro
Meu conceito de desaposentadoria é diferente do que o governo entende. Na verdade o do governo é desaposentação, pois, desaposentadoria, no meu conceito, é rimar aposentadoria com sabedoria, filosofia, poesia e alegria. Desaposentados são os aposentados que continuam sonhando, que transformam os sonhos em projetos e os projetos em vida. Eu atuo na preparação psicológica das pessoas para a aposentadoria e pouco entendo de desaposentação. Existem escritórios de advocacia que atuam nessa questão que você pergunta. Abraços