Economia e Vida – Boletim nº 39 – Março 2010
É muito comum ouvirmos discursos que abordam a questão da dignidade humana que é a base da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Mas se faz necessária uma reflexão sobre esse assunto em proveito de uma visão menos superficial. E o momento é propício em função do tema da Campanha da Fraternidade 2010 “Fraternidade e Economia”.
Vou aproveitar o artigo deste mês para compartilhar com você, que me lê, algumas idéias extraídas do documento oficial da referida Campanha que tem por objetivo unir as Igrejas e, principalmente, a nossa sociedade, que é formada por pessoas de boa vontade, na promoção de uma economia a serviço da vida, sem exclusões, criando uma cultura de solidariedade e trazendo paz.
A Campanha da Fraternidade é realizada anualmente pela Igreja Católica no período da quaresma – entre o Carnaval e a Páscoa – com o objetivo é despertar a solidariedade dos seus fiéis e da sociedade em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução.
A Campanha da Fraternidade de 2010, que é ecumênica, aborda uma verdade essencial na construção de uma sociedade mais fraterna: a economia a serviço da vida. A economia é muito mais do que uma ciência que se estuda nas universidades, ela é um elemento construtivo da sociedade.
É pela economia que podemos debater e solucionar os grandes problemas vividos pela sociedade. Aí estão as desigualdades sociais, a concentração de riquezas, a degradação do meio ambiente. A economia envolve as diversas dimensões da vida humana, gerando conseqüências para o meio ambiente.
A dignidade humana está intimamente relacionada à realização da pessoa em todos os níveis da sua existência. Sem a satisfação de todas as necessidades ligadas às várias dimensões da existência humana, não há como dizer que uma pessoa possa ter vida digna.
O valor econômico não pode ser um fim em si, mas deve existir em proveito da pessoa humana e da satisfação de suas necessidades, sejam naturais, sejam espirituais. O econômico deve existir em função da pessoa humana e não o contrário; deve ser um caminho para a realização de todos, levando em consideração os direitos humanos e o respeito à dignidade humana.
Os bens materiais são importantes e necessários sim, mas não podem ser o sentido de nossas vidas. O perigo é darmos a eles um sentido maior do que realmente têm. A sociedade materialista e consumista em que vivemos nos ensina a ganhar, concentrar, acumular, possuir e a consumir. De certa forma, somos incentivados a ter corações egoístas e fechados.
A Campanha da Fraternidade vai nos ajudar a reconhecer nossa omissão diante das injustiças que causam exclusão social e miséria. A nível pessoal somos convidados, nesse período da quaresma, a refletir sobre o nosso dia a dia. Como nos comportarmos? Somos apenas consumistas? Como tratamos o meio ambiente? Não o reduzimos somente à mercadoria? Nas nossas relações humanas visamos apenas o interesse pessoal e financeiro? Afinal, conjugamos mais o verbo TER ou o verbo SER?
Vale lembrar de que todos os nossos bens, na verdade, não nos pertencem, nós somos apenas nossas almas. Não somos donos de nossas vidas, estamos apenas vivendo uma experiência terrena.
Que Deus o(a) proteja junto a seus familiares
Um fraternal abraço e até o próximo artigo,
Armelino Girardi
Para reflexão: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração”. (Mateus 6, 19-23)