Aproveitando a aposentadoria – Boletim nº 47- Agosto 2010

Programar a aposentadoria: eis a chave do sucesso. Após mais de quarenta (40) anos de exercício ininterrupto da magistratura, fui obrigado a me aposentar, em decorrência da idade limite – setenta (70) anos.

A aposentadoria compulsória, contudo, não me perturbou, porque sempre pautei a minha vida pelo ensinamento bíblico, previsto no livro do Eclesiastes (3, 1-8): “todas as coisas têm o seu tempo…” Por isso, nos últimos anos que antecederam a minha aposentadoria, fui me programando para uma nova vida: sem compromissos diários obrigatórios; sem horários fixos para as minhas atividades forenses; sem precisar cumprir prazos, previstos em lei.

Porém, um fato ocorrido na véspera da aposentadoria veio facilitar a minha adaptação àquela vida: fui designado para ocupar o cargo de diretor-geral da Escola da Magistratura do Paraná (EMAP).

 Atividades iniciadas e outras intensificadas, após a aposentadoria. Concluído o meu mandato na EMAP, outras atividades foram por mim programadas: curso de especialização em Processo Civil; aulas de italiano e de violão e conciliador voluntário, na Secretaria de Conciliação do Tribunal de Justiça.

A par de tudo isso, passei a integrar o coral da Associação Brasileira de Recursos Humanos; a realizar estudos e pesquisas em meu escritório diariamente e a elaborar artigos jurídicos, que são publicados em jornais e revistas especializados. Tenho, ainda, proferido palestras sobre temas relacionados à matéria de Processo Civil.

Não dispenso, também, as minhas atividades sociais e de lazer. A companhia de minha família: esposa, filhos, nora, neto e parentes, nos almoços semanais, nas reuniões festivas: aniversários, casamentos e outras. A frequência às sessões de cinema, a uma peça teatral ou a um concerto nos teatros de cidade, e a leitura de jornais, revistas e livros, também fazem parte da minha rotina diária.

Sempre gostei de praticar esportes. Por isso, pratico, há mais de três décadas, a natação em escola especializada e as caminhadas, nos parques de Curitiba – no Passeio Público e no Parque Barigui. Essas são duas atividades que me dão muito prazer.

 Utilização do tempo disponível.  Outra vantagem de estar aposentado diz respeito à disponibilidade de tempo. Agora, posso programar minhas viagens pelo Brasil ou pelo exterior. Conhecer as maravilhas do país e do mundo; seus usos e costumes; conviver com pessoas, trocar ideias e conhecimentos. Jogar conversa fora nas manhãs de sábado na Boca Maldita ou caminhar pelo calçadão da Rua XV são atividades impossíveis de se realizar antes da aposentadoria.

Com relação ao item lazer, não posso me esquecer da alegria de ser avô. Penso que a natureza é perfeita ao conceder aos idosos o prazer de conviver com seus netos. Eles são os homens e as mulheres do futuro. Necessitam de bons exemplos e de uma orientação segura, o que adquirem principalmente de seus pais, mas os avós, também, podem contribuir para que isso aconteça, dentro de certos limites, é verdade, porque a última palavra sempre deve ser dada pelos pais.

Tenho um neto, que me tem dado muita alegria e felicidade. Pedro é seu nome. É um doce de criatura: inteligente, vivo, de memória inigualável, esperto e muito amigo. Nosso relacionamento tem sido fora do comum, talvez porque ele sempre diz que gosta das coisas antigas. 

 Aos futuros e atuais aposentados, um conselho.  Aos que estão prestes a se aposentar ou que já se encontram aposentados, permitam-me que lhes dê um conselho ou orientação: a vida continua e deve continuar para melhor; o tempo, agora, é integralmente disponível; basta ocupá-lo com aquilo que não era possível fazer e que todos nós gostaríamos de fazer durante o exercício de nossa atividade profissional. Por que, então, não incluir no tempo disponível uma atividade voluntária, no próprio local em que o aposentado exercia o seu trabalho, ou em qualquer outra que seja de interesse da comunidade? Essa atividade, sem retribuição e sem interesse pessoal, dignifica todo ser humano.

 Palavra final.  A finalidade principal deste depoimento é apresentar àqueles, que estão prestes a se aposentar e àqueles que já se aposentaram, a experiência que, agora, estou vivenciando, nessa nova fase da vida, bem como demonstrar que é possível aproveitar bem o tempo disponível, não só dando maior atenção à família, mas também às outras atividades – lazer e voluntariado.

Accácio Cambi

Desembargador aposentado

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